Onde o bastão tomou o lugar da chuteira

O venezuelano Johan Santana, um dos jogadores mais bem pagos do mundo

Para o venezuelano Marco Lineares, em seu país o esporte é igual ao Natal, todos esperam ansiosamente pelo início da temporada. E não é à toa, já que o beisebol é a paixão nacional, mesmo no continente do futebol.

Segundo Lineares, jogador desde os 10 anos, o beisebol é tão popular em seu país, pois durante décadas venezuelanos se tornaram grandes estrelas no exterior graças ao esporte. O que raramente aconteceu com os jogadores de futebol do país.

Para os historiadores, a explicação tem origem um pouco antes, no final do século XIX. Nesse período, os filhos da elite do país retornaram das universidades norte-americanas com o bastão, a luva e o boné na bagagem. Com o tempo, o esporte se popularizou e dezenas de clubes começaram a surgir. Mas foi a partir de 1941 que a prática tomou conta do país, quando o time venceu a Copa do Mundo de Beisebol.

Hoje, em torno de 135 mil jovens são federados em 180 ligas diferentes. A proximidade com várias ilhas caribenhas, onde o beisebol é um dos esportes mais praticados, também contribui para o avanço da modalidade na Venezuela.

Apesar da prática ainda ser baseada nos moldes norte-americanos, as torcidas já possuem a alma latina. De acordo com Lineares, o público fica em pé a partida inteira, transmitindo emoção ao jogador. Se o jogo vai bem, o apoio é certo. Mas se o jogador comete um erro, a torcida não perdoa. Nos Estados Unidos, os torcedores apenas se animam nos momentos decisivos do jogo. Mesmo assim, o sonho da garotada ainda é jogar em um time norte-americano. A grande referência no país atualmente é Johan Santana. O jogador venezuelano treina pelo New York Times e é um dos mais bem pagos do mundo.

Nem o presidente Hugo Chávez resistiu ao esporte ianque, mesmo com todo seu discurso inflamado anti-americano. Quando jovem, seu sonho era ser jogador de beisebol. Mas vivia em Sabaneta, uma cidade pequena no interior da Venezuela e não tinha condições financeiras de morar em Caracas para tentar ingressar em um time. A solução encontrada foi entrar para a Academia Militar da Venezuela, em Caracas, já que possuía o mesmo treinador da equipe nacional de beisebol do país. Como todos sabem, Chávez não se tornou um famoso jogador. Mas continua fanático por beisebol e vira e mexe se arrisca em famosas partidas.

Lineares confessa que, se fosse presidente, lutaria para que mais venezuelanos levassem o nome do país como referência no beisebol, sem nunca esquecer de onde vieram. Se esse sonho se realizasse, com certeza Lineares ganharia muitos votos.

Texto: Lívia Pulchério / Imagem: Divulgação



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