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O diretor canadense Denys Arcand, cotado para o Oscar

(08/01/04)


Queda para o alto
Associated Press

"O Declínio do Império Americano" volta às telas de carona no sucesso de "As Invasões Bárbaras"

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"É a história da minha vida privada. Não sabia se ia interessar a alguém", diz o cineasta canadense Denys Arcand, 62, sobre "O Declínio do Império Americano", título-fenômeno de 1986, que reestréia amanhã no Rio e em São Paulo, na esteira do novo sucesso do diretor, "As Invasões Bárbaras" (2003), em que retoma os personagens do filme anterior e atualiza suas angústias.
Premiado em Cannes pelo roteiro (de Arcand) e a interpretação de Marie-Josée Croze, "As Invasões Bárbaras" está entre os favoritos ao Oscar de melhor filme estrangeiro. "Vou perder pela terceira vez", diz o diretor.
"O Declínio do Império Americano" foi vencido pelo holandês "O Ataque", de Fons Rademakers. Quando Arcand concorreu com "Jésus de Montréal" (1989), o italiano "Cinema Paradiso", de Giuseppe Tornatore, levou a estatueta. Será este o ano de perder para o brasileiro "Carandiru", de Hector Babenco? "Nem vamos falar sobre isso. A rivalidade é grande demais entre nós", afirma o diretor, no tom de brincadeira que manteve durante toda a entrevista, por telefone, de Montréal.


Folha - Tratar de sexo como o sr. fez em "O Declínio do Império Americano" era uma provocação com os costumes dos anos 80?
Denys Arcand - Nunca tive a intenção de chocar, nem nada parecido. Meus filmes são autobiográficos. Falo de mim, das mulheres com quem vivi e dos amigos mais próximos. Quando fiz "O Declínio do Império Americano" estava sem filmar havia 12 anos. Tinha um orçamento pequeno. O produtor me pediu algo simples, econômico. Achei que o mais barato seria um filme de conversas. Atores falando não exigem muitos cenários ou efeitos. Fiz um filme sobre a minha vida privada, uma espécie de balanço amoroso.


Folha - O sr. diz que "As Invasões Bárbaras" era um projeto antigo, no qual gastou anos até achar um tom não muito sombrio. Em "O Declínio..." também precisou de tempo para encontrar o tom cômico?
Arcand - Não. Minha vida não merece nada diferente de uma comédia. Nunca houve nela elementos especialmente dramáticos. Nunca uma mulher se suicidou por mim, e eu tampouco me suicidei por uma mulher.


Folha - Algo o incomoda no filme hoje? Faria alguma correção?
Arcand - Serei pretensioso o bastante para dizer que o acho ótimo. Vejo "O Declínio..." como quem olha um álbum de fotos de dez anos antes -com ternura e sem vontade de corrigir nada.


Folha - O 11 de Setembro mudou o sentido do título do filme?
Arcand - Para mim, a América, desde o avanço de sua potência, já estava em declínio, em relação ao sonho de seus fundadores. É um país que passou rapidamente da expansão à queda. Estou convencido de que tinha razão.


Folha - O tom reflexivo de "As Invasões..." é seu modo de dizer que os balanços amorosos não são os únicos que interessam?
Arcand - Aos 60, não temos a mesma paixão dos 40. Com 40 anos, minha grande preocupação era saber com quem passaria a próxima noite. Aos 60, as preocupações são outras -as relações com a família, a vida que tivemos.



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