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No mundo do Vampiro

(27/06/04)


Penélope estréia no próximo dia 30, no bar Era Só o Que Faltava
Curitibano da gema, de 20 e tantos anos e coxa roxo assumido. Assim se define, sem entregar a idade, o videomaker Estevan Silvera, que apresenta no próximo dia 30, no Era Só o Que Faltava, seu quarto trabalho inspirado em contos de Dalton Trevisan, Penélope. Mas, e o que é ser curitibano da gema? “Ser curitibano ora, agir como um curitibano”, diz. E como age um curitibano, então? “Às vezes não age, né”, diz ele numa brincadeira muito séria, já que tem sido um observador de alguns aspectos da cultura curitibana que parecem não interessar tanto a seus conterrâneos.

Silvera tem no currículo outros três trabalhos com os textos de Trevisan – Que fim Levou o Vampiro de Curitiba? (1996), Ezequiel (1995) e O Escapulário (2001). Desde o começo dos anos 90, ele produziu e dirigiu 14 produções, entre as quais o premiado curta Rainha de Papel, sobre a artista popular curitibana Efigênia Rolim. Os curitibanos, como se pode perceber facilmente, não só são os temas principais de Silvera, como também seus principais colaboradores para que as idéias se realizem, já que trabalha basicamente com profissionais locais, entre eles Beto Carminatti, Angelo Smanhotto, Carlos Daitschman, Yara Marçal e Adolfo Pimentel.

O videomaker ignora solenemente as dificuldades e supera o cansaço para realizar suas produções depois de oito horas diárias de trabalho numa lotérica – apesar de formado em Turismo e Letras, com pós-graduação em Meio Ambiente. Aliás, foi por conta do meio acadêmico que fez seu primeiro vídeo. “Ganhei uma bolsa de iniciação científica quando fazia Turismo e concluí o curso com um documentário sobre Guaraqueçaba”, diz. “Sempre fui aficionado pelo gênero e planejava fazer. A hora chegou naturalmente”, completa ele, que gosta mais de documentário, mas faz ficção pela oportunidade de trabalhar com textos de Trevisan.

De seus contatos com o escorregadio Vampiro de Curitiba ele fala muito pouco. Diz apenas que é um fã, mas logo adianta que não fala sobre o escritor, também para respeitar a postura do próprio, que não conversa de jeito nenhum com imprensa, tampouco se deixa fotografar. “Minha intenção é divulgar o trabalho dele, usando o vídeo como um instrumento a mais para ajudar na compreensão de sua literatura”, conta o fã do sarcasmo que escapa das películas do diretor italiano Ettore Scola, apontado como seu preferido.

Penélope narra história de um casal de velhinhos, uma história “recheada de amor, ciúmes e traição, como as obras de Dalton”. “Tem referência muito forte ao mito de Penélope, que tece enquanto espera seu amor. No conto, os dois passam o dia lendo o jornal dentro de casa, ela tecendo uma toalhinha que nunca acaba, até que ele faz a analogia com a personagem mitológica e o ciúme entra em cena”, explica Silvera, resssaltando que não mexe numa vírgula no texto de Trevisan. “Se fosse para mudar, pegaria outra coisa ou escreveria”, emenda, arriscando que essa fidelidade ao original ajudou na aproximação com o escritor. “Este é exatamente o desafio maior e a principal dificuldade”, pontua. Autocrítico, diz que está “caminhando para chegar perto da qualidade da obra de sua inspiração”.

Entre as 14 produções que realizou até agora, a maioria foi por conta própria. Algumas com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba, entre as quais O Escapulário, Penélope e a próxima criação, Balada do Vampiro, também baseada baseada na obra de Dalton. Na gaveta, mas não esquecido, está seu projeto mais longo, o filme Gralha Azul, em execução há seis anos, e um documentário sobre outro artista popular, Hélio Leites, este último em película.

Sua maior dificuldade é a finalização, pelos altos custos. Nesse campo, tem tido o apoio valioso da Faculdade Essei. Tem, entre os parceiros – que pede para serem citados –, a Clinihauer, Engrena – Construção Civil, Dá-lhe Pizza e Mercado das Pulgas.

Penélope levou um ano e meio para ser executado desde a pré-produção, mas as filmagens foram feitas em dois dias – 12 horas corridas, das 18 horas às 8 da manhã do dia seguinte. “Com direito a um clima bem curitibano, muito frio e chuva”, conta.

Adriane Perin



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