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Mulher morre de fome e marido vai para a cadeia

(11/10/03)


Umas dona de casa de 40 anos chegou ao Hospital São Luís Gonzaga pesando apenas 14 kg. Morreu três horas depois. Ela não andava desde 1996 por causa de um aneurisma e era cuidada pelo marido, que foi preso acusado de maus-tratos.

Quando a dona de casa Carmem Aparecida Lopes, de 40 anos, chegou anteontem em uma maca ao pronto-socorro do Hospital São Luís Gonzaga, Zona Norte, nem os médicos acreditaram e, revoltados, acabaram ligando para a polícia. Ela morreu três horas depois. Seu marido, o pedreiro desempregado Alex Alexandrino, de 41 anos, foi preso em seguida por maus-tratos.

A dona de casa estava esquálida, suja de fezes e urina. Pesava aproximadamente 14kg e tinha o corpo coberto por grandes escaras – feridas purulentas provocadas por permanecer muito tempo deitada. Além de sarnas e piolhos.

Carmem foi levada ao hospital por homens do Resgate do Corpo de Bombeiros por volta das 15h. Estava desacordada. O marido e a irmã dela, a professora Ana Maria Ferreira, de 30 anos, a acompanhavam.

“Em nove anos trabalhando aqui jamais tinha visto algo parecido”, disse a médica Magda Costa Silva, de 37 anos, em seu depoimento à polícia. Magda é chefe do PS e contou que a mulher possivelmente não comia havia 20 dias. Devido as feridas, seu corpo exalava mau cheiro.

Casada há 19 anos com Alex, a dona de casa não andava desde 1996, quando sofreu um aneurisma cerebral que paralisou o lado esquerdo de seu corpo. Com o tempo, as pernas foram perdendo o movimento. Nos primeiros dois anos, ela ficou sob os cuidados da irmã Ana Maria. Depois foi para a casa do marido.

O casal morava com um filho de 19 anos, de outro casamento dela, e com outros quatro filhos deles, com idades entre 9 e 15 anos. Todos numa casa com menos de três cômodos. No mesmo terreno vivem o pai e 7 irmãos do pedreiro.

“Ele ficou desempregado e sem condições de cuidar dela e das crianças”, contou Regina Alexandrino, irmã do acusado. “Os filhos foram para casas de parentes. Menos o mais velho, que ele também praticamente criou.”

Para chegar até a residência onde morava a dona de casa, a menos de 100 metros da casa da irmã dela, é preciso subir uma escada íngreme. No local, cachorros circulam livremente. “Ele a levou para lá e não deixava ninguém vê-la”, contou Ana Maria aos policiais, referindo-se ao cunhado. Ela disse ainda que todo mês mandava comida à irmã pelos filhos deles.

“Se ela enviava, a comida não chegava até a dona de casa”, opinou o delegado Walter Torres de Abreu, titular do 73º DP, onde o pedreiro foi preso. Para ele, Alex premeditou o crime “porque não agüentava mais cuidar da mulher”.

Vizinhos e parentes dele, no entanto, acreditam que o pedreiro foi preso injustamente. “A gente dava o que podia para ela, mas não tínhamos nem para nós direito. Tem dia que não temos o que comer”, contou Robson Alexandrino, irmão de Alex.

No último dia 23, Robson ajudou o pedreiro a levar a mulher ao hospital do Mandaqui, na Zona Norte da capital. A assessoria de imprensa do hospital informou ontem que os médicos colocaram remédios em suas feridas e a encaminharam para a casa por ela não apresentar quadro de urgência.

“A verdade é que ele não tinha condições de cuidar dela. Ela deveria estar em um colchão de água e receber cuidados especiais”, explicou a vizinha Patrícia Valéria, que trabalha como auxiliar de enfermagem.



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