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MANOEL DE BARROS, POETA DO PRIMITIVO

(03/06/00)




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“No Peru e na Bolívia, onde {Manoel de Barros} perambulou nos anos 40, procurou os lugares mais miseráveis. Pescava, bebia, passava os dias em meio aos descendentes diretos dos índios americanos. Empenhou-se em “conhecer as pequenezas”. “Me arrastei por beiradas de muros desde Puerto Suarez, Chiquitos, Oruros, Santa Cruz de la Sierra”. De Cuzco, no Peru, o poeta-arqueólogo foi parar em Nova York e esbarrou em Picasso, Chagall, Paul Klee, Dalí, Miró e outros. Um choque. Seu aferidor de encantamentos estava descompensado. “Se não fosse poeta, certamente seria pintor”.

Para os pantaneiros, a Bolívia, a oeste, esconde os mistérios do entardecer. Como diz o poeta, pôr-do-sol “parece uma gema de ovo do lado da Bolívia”. Peão que é peão enfrenta a tal gema olho no olho, não lacrimeja. O antropólogo Claude Lévi-Strauss viajou em 1926 pelo miolo de Mato Grosso. Notou a simplicidade dos móveis no interior das sedes das fazendas. “Dois ou três mochos na sala, arames de estender roupas nos quartos servindo de armário e redes por todos os cantos. Foi um povo ladino, sensual e andejo que um dia atravessando o rio Taquari encheu de filhos e de gado a zona da Nhecolândia”.
Manoel foi criado de olho virado para a Bolívia, na fazenda do pai arameiro. Arameiro é o sujeito que faz cerca para isolar o gado, cortando árvores para fazer postes, passando o arame neles, debaixo dos quais acampava a nômade família Barros.

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As pessoas aparentemente contidas no abandono ou abandonadas no pertencimento encantam Manoel de Barros, tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.
Surpreendente que o poeta tenha sido comunista pela mão de Apolônio de Carvalho, o velho amigo que o apresentou à literatura marxista.
“Para a doutrina comunista, pessoas de inteligência curiosa são hereges...
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira”. Em poucos anos de marxismo, Manoel saiu “de ventena”(correndo, em dialeto pantanês). Já bastam os lacanianos que adoram ouvir o poeta dizer que é “um sujeito extraído de palavras”, o que, portanto, comprovaria as teorias do psicanalista francês Jacques Lacan. Teorias, acreditai-vos, são destrutíveis. “A única coisa indestrutível é a morte”. Salvo não seja”.


(Para ler o texto completo, consultar SERGIO VILAS BOAS, Caderno da Gazeta Mercantil, Sexta-feira, 2 e fim de semana, 3 e 4 de junho de 2000, p.3)



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