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Lya Luft conquista mais leitores com seu novo trabalho

(25/04/04)



“Não tenho nenhuma receita, nenhum facilitador para entender a vida: ela é confusão mesmo”. É assim, com a sinceridade e a objetividade de quem conversa com um amigo íntimo, que a autora gaúcha Lya Luft transformou-se em fenômeno editorial com a publicação do livro Perdas & Ganhos, no ano passado, alcançando 20 edições e mais de 150 mil exemplares vendidos.

O trecho acima, retirado da crônica “Pensar É Viver”, integrante de seu mais recente trabalho Pensar É Transgredir, dá o tom do novo livro da escritora, composto de crônicas, algumas publicadas em jornais e outras inéditas, parte de seu acervo pessoal. Seguindo a mesma linha da obra anterior, com textos curtos, feitos a partir das próprias inquietudes de Lya, Pensar É Transgredir fala das tramas e dos dramas existenciais, do sentido e do valor da vida, do cotidiano banal e misterioso, dos amores e desencontros, sem deixar de lado a preocupação com as questões sociais. “Falo de valores morais, porém não moralistas, éticos e humanos, mas com qualidade literária. Exprimo o desejo de questionar, mas não coloco band-aid na alma de ninguém”, afirma a escritora, em entrevista concedida na 18.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, onde Lya participou de um encontro com o público visitante da feira no espaço Salão de Idéias, na última segunda-feira.

Retomando um tipo de literatura comum à tradição fiolosófica da Grécia Clássica – vide Epicuro ou o romano estadista Cícero – que demonstrava uma preocupacão em refletir sobre questões como a vida e a morte, Lya transgride a ordem do superficial, denunciando comportamentos hipócritas e propondo uma releitura dos valores familiares e sociais, sempre fugindo do injusto rótulo de auto-ajuda, que, muitas vezes, é erroneamente atrelado à sua obra. “Meus livros nunca foram bonzinhos, uso as palavras como um bisturi. Não é uma literatura do tipo ‘receitas de como ser feliz em dez lições a preços módicos’”, analisa, bem-humorada.

Apesar de insistir no amor à vida, levando em conta o que ela tem de pior e de melhor, e na reinvenção de nós mesmos como forma de superar os obstáculos, a escritora, muitas vezes dá verdadeiros chacoalhões nos leitores, como em “Velhice, por que não?”, em que Lya questiona os preconceitos associados aos vocábulos, “velho” e “velhice”, que acabam determinando o comportamento resignado de pessoas que já passaram dos 65 anos. “(...) Quando não pudermos mais realizar negócios, viajar a países distantes, talvez nem mesmo dar caminhadas, poderemos ainda exercer afetos, reunir pessoas, ler bons livros, observar a humanidade que nos cerca.(...) Para isso não é necessário ser jovem, belo (significando carnes firmes e pele de seda...) ou ágil, mas ainda lúcido (...)”, alfineta.

A facilidade com que Lya atinge o âmago dos leitores, aos quais chama de “amigos invisíveis”, é explícita de maneira cotidiana nas crônicas “Canção das Mulheres” e “Canções dos Homens”. Em formato de preçes, os dois textos falam de atitudes corriqueiras entre os casais de longa data, que, quando repetidas com freqüência acabam gerando o desamor entre os pares. Na versão feminina, a personagem pede que o outro não se aproveite de sua fragilidade, que quando note que ela está com medo, simplesmente a tome nos braços sem fazer perguntas demais e que não a censure com frases do tipo “Poxa, mais um?”, quando ela pedir um segundo drinque no restaurante. No caso dos homens, os pedidos são para que ela não seja irônica quando ele estiver cansado demais para fazer amor, que ele possa ter momentos de fraqueza e ternura sem ser censurado ou criticado e que ela não faça gestos de enfado quando ele contar uma piada repetida.

Pensar É Transgredir também conta com um texto infantil, que fará parte de um livro composto por cinco histórias para crianças sob o título de Histórias da Bruxa Boa, com lançamento previsto para o segundo semestre deste ano. “Conto muitas histórias para a minha neta Isabela, em que eu sou a bruxa boa e ela minha assistente. Para não esquecê-las passei a guardá-las no computador. A editora leu e decidiu publicar. Mas é coisa única. Será o primeiro e o último”, ressalta a escritora.

Entre os planos de Lya para este ano também estão um livro de poesias e um romance, que, por enquanto, só tem o título: O Silêncio dos Amantes. “O romance se faz no inconsciente. Fico quieta e não anoto nada, pois sei que é meu, está aqui dentro e um dia virá. Mas, esses amantes estão demorando um pouco para falar”, brinca.

Sobre o sucesso, Lya confessa que ainda está um pouco atrapalhada. “Sou uma pessoa alegre e divertida, mas gosto de ficar quieta. De repente, tudo se desorganizou muito. Costumo dizer que tenho um chip falhado dentro da minha cabeça. Se tenho compromissos demais fico com a alma desarrumada”, explica. O assédio dos fãs é constante e, embora a deixe desconcertada devido à timidez, não a incomoda, pois, traz calor humano. “Vender bastante é muito bom, pois agora tenho mais cúmplices para as minhas inquietações. Eles me acompanham nos meus assombros e questionamentos”, analisa, garantindo que o sucesso editorial de seus livros, não influi no seu processo criativo. “Se começar a entrar nessa estou ferrada. Continuo o mesmo tipo de escritora que sempre fui. Exerço uma arte, não sou uma mera fazedora de livros”, afirma.



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