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ISAIAS RAW - Ele tem o virus da pressa

(25/03/07)


Aureliano Biancarelli e Mônica Manir

Ele está fazendo 80 anos amanhã e já tem uma lista de comemorações para os próximos três anos. Nada de viagens nem atividades de lazer, bem merecidas a essa altura da vida. No lugar, uma ousada agenda de produção de 20 novos medicamentos e vacinas, todos em desenvolvimento na bancada de sua equipe de 25 doutores. Entre as vacinas está a da dengue, prevista para 2009 e que deve ser a primeira do mundo, correndo na frente de multinacionais e dezenas de instituições de vários países. Para o Brasil, não haveria melhor presente: só no ano passado, o vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti fez 50 mil vítimas e matou 14 pessoas no Estado de São Paulo.

Batalhões de agentes sanitários batendo de porta em porta, buscando larvas do mosquito até mesmo em água parada em tampinhas de refrigerante, estão longe de vencer a guerra. “Impossível exterminar o mosquito. A solução está na vacina.” É justamente o que mais fez e melhor sabe fazer o aniversariante desta segunda-feira, o cientista Isaias Raw, presidente da Fundação Butantan.

Desde que retornou ao Brasil em 1980 - depois de cassado pelo regime militar em 1969 -, Raw vem impondo ao Butantan uma política de pesquisa e produção tecnológica com os olhos voltados para o social. “Uma vacina que não pode ser comprada pelo Estado e distribuída para a população não serve para nada”, ele diz. Realista, defende que o Brasil forneça vacina de graça para a América Latina, como forma de controlar as epidemias nas suas origens e ganhar mercados futuros. E sugere que se forme um estoque mundial estratégico de vacinas, que seria a “primeira ação coletiva da espécie humana”.

Com a fama de briguento e empreendedor, Raw implantou um verdadeiro parque industrial camuflado entre os bosques do Butantan. São seis fábricas que já produzem as vacinas da difteria, tétano, coqueluche, raiva, hepatite, além de soros. Fundado em 1901, e conhecido por gerações como produtor de soro para cobra, o Butantan é hoje um dos maiores fabricantes de vacinas do mundo.

No próximo 26 de abril, o presidente Lula, o governador José Serra e autoridades da saúde estarão no Butantan para homenagear Raw e inaugurar duas novas fábricas, a de vacina para a gripe e a de sulfactante pulmonar, um produto capaz de salvar milhares de bebês prematuros e de baixo peso.

Médico pela Faculdade de Medicina da USP, professor, Isaias Raw tem um extenso currículo nas áreas de educação e ciência. Esteve à frente da Funbec (Fundação Brasileira para o Desenvolvimento e Ensino de Ciências) onde criou, entre outras iniciativas, o kit Os Cientistas, maleta com alça para os alunos carregarem reagentes de experiências que faziam em casa. “A escola tem de ensinar o aluno a aprender. O resto ele faz sozinho.” Raw também esteve à frente da Fundação Carlos Chagas e das editoras da USP e da Universidade de Brasília. Fora do Brasil, pesquisou e ensinou em Israel e nos Estados Unidos, onde hoje se encontram seus três filhos e três netos.

Com tantos projetos, Raw costuma chegar às 6h da manhã ao prédio da Biotecnologia. “Velho dorme pouco e, quando chega à noite, se lembra que é preciso fazer isso, decidir aquilo.” Nos finais de semana, muita gente vai ao Butantan passear por suas alamedas, os prédios centenários, o covil das serpentes, a jaula dos macacos. “Eu não caminho. Sempre tive muita pressa”, ele brinca. “Enquanto as autoridades falam em fazer no mês que vem, eu já fiz hoje.” Sua urgência agora está em abater a dengue.

Só no ano passado, foram 50 mil casos de dengue apenas no Estado de São Paulo, com 14 mortes. Neste ano, até a segunda quinzena de março, dados oficiais do Estado já registraram quase 8 mil casos e 1 óbito. O que é possível fazer?

No Brasil e na África, não é nada fácil controlar os mosquitos. Se acabarmos com os mosquitos silvestres, matamos os passarinhos, mexemos na cadeia alimentar. A solução é uma vacina. Fui o primeiro a pedir a patente para o produto e, mesmo sem exclusividade, temos tudo para sermos os pioneiros.

Mas os Estados Unidos já desenvolveram cepas da vacina, não?

O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos vem trabalhando nisso há 10 anos. Pegaram o microorganismo e por meio da engenharia genética chegaram a um vírus que não causa a doença, mas oferece resposta de defesa imunológica. Fizeram as quatro cepas e testaram em macacos, duas já foram testadas em gente. O Butantan adquiriu a reputação de pegar essa semente e fazer o produto. Somos os únicos fabricantes de vacina com quem eles vão trabalhar no mundo. Não vamos testar para uma empresa, vamos fazer um ensaio clínico de uma vacina que vai chegar às mãos do Ministério da Saúde a um preço que ele possa pagar.

Como é feito esse ensaio?

Na fase 1, é preciso checar se a vacina não mata a pessoa. Depois observa-se se o corpo desenvolve um anticorpo que mate o vírus. Na fase final, parte-se para a vacinação nas áreas com maior freqüência da doença.

Todas essas fases levariam uns quatro anos, ou mais. É a previsão que o senhor faz para que a vacina chegue à população?

Espero conseguir em dois anos, podemos ser os primeiros. O problema da dengue é que ela tem quatro tipos. O mais perigoso para o Brasil, a longo prazo, é o 4. Ele é mais freqüente na Ásia, não existe aqui, portanto ninguém está imunizado. A curto prazo, quem desenvolve um tipo depois de já ter manifestado outro, 2 após o 1 por exemplo, pode ser vítima da dengue hemorrágica.

Então o senhor pularia fases?

Você tem que pular dentro do que é eticamente permitido, claro. Não vou pegar a vacina que funciona em camundongo e aplicar em um monte de gente. Mas a pergunta é: quanto tempo se pode esperar? Hoje já temos quase 60 mil casos notificados. Se esses 60 mil tiverem outro tipo de dengue, morrem todos da hemorrágica. Outra coisa é quanto custa uma pessoa doente, quantos dias ela fica em casa ou, pior, no hospital. Não é por filantropia que indústrias vacinam de graça contra a gripe. Se metade ficar em casa, a outra metade não trabalha.

Se pegarmos o universo da vacina, o Brasil está em qual posição?

Com exceção do Brasil, ninguém fabrica nada nos países em desenvolvimento. Cerca de 82% de todas as vacinas aplicadas no país são fabricadas no Butantan, o resto se divide entre outras duas instituições, a Fiocruz, no Rio de Janeiro, e a Fundação Ataulpho de Paiva, em Niterói. Nos últimos quatro anos, o País consumiu 1,2 bilhão de doses de vacina, ou 300 milhões de doses por ano. Nós fabricamos 720 milhões, ou quase 200 milhões por ano. Uma pequena parte teve matéria-prima comprada e o produto final elaborado aqui. Nos EUA, a produção vem caindo desde que a China começou a fabricar vacina a preço de banana.

Mas isso não vai acontecer com a gente também?

O Ministério da Saúde definiu 20 anos atrás que todas as vacinas produzidas pelas instituições públicas não serão compradas lá fora. É um mercado cativo, que pode ser questionado pela Organização Mundial do Comércio, mas acho difícil porque não somos uma fábrica que vende para o ministério, somos um contratado do ministério para fazer isso.

Vacina é competência do Estado ou da iniciativa privada?

Depois do Consenso de Washington, em 1990, passou-se a assumir que o Estado não funcionava em lugar nenhum e que a solução era a iniciativa privada. Só que a iniciativa privada raramente é ética. Se estivéssemos falando de caviar, tudo bem, mas vacina é uma demanda da população. Quando você manda seu filho para a escola e o colega dele não está vacinado, seu moleque vai trazer a doença para casa. Ainda que um cidadão diga “meu filho está vacinado, portanto está protegido”, vacina é uma questão coletiva, não individual, porque só se controla doença infecciosa se controlar a doença na população. Agora, se ela é praticamente toda comercializada no País, quem é que toma vacina? Quem pode pagar a conta. Não há uma proteção universal.

Mas a vacina, na origem, era uma produção pública.

No começo do século passado, 1920, por aí, era o governo quem fabricava vacinas. Herança do modelo original de Louis Pasteur, que fez a primeira vacina contra a raiva e outras tantas. O modelo era mais ou menos o seguinte: um instituto fabricava o produto, passava para o governo, o dinheiro público voltava para fabricar mais produto e, eventualmente, para pagar pesquisa e desenvolvimento. Com essa idéia, os franceses abriram o Instituto Pasteur, que naquele tempo fabricava vacina, e ensinaram a formar uma série de outros órgãos do gênero. Mas o Instituto morreu. Por quê? Porque ficou mais complicado fazer vacina e eles não tinham competência para isso. Vacina exige um cuidado que remédio não exige. Se você toma um medicamento e ele não funciona, você retorna ao médico e muda de remédio. Claro, pode morrer disso também, mas, no caso da vacina, você pega uma população que nasceu saudável e vai imunizá-la. Se a vacina provocar uma doença, é uma desgraça. De repente, 3,5 milhões de crianças nascidas no Brasil ficam doentes. Como esses Institutos Pasteur não tinham nem dinheiro nem competência para evoluir, eles morreram no mundo inteiro. Só não morreram aqui porque o governo brasileiro não sabe fechar coisas que não funcionam.

O Instituto Butantan chegou a perder a função em algum momento?

Por volta de 1983, 1984, o governo passou a checar se o produto que recebia dos institutos prestava. Caso contrário, não fazia o pagamento. Ocorre que o Butantan não sabia mais fazer soro. Só explicando a diferença entre soro e vacina: soro é quando você injeta o veneno, toxina ou micróbio no cavalo, por exemplo, e o animal responde fazendo anticorpo, que você aplica na pessoa. É uma imunidade passiva, ao contrário da vacina, que significa injetar o produto tóxico, o micróbio ou o vírus diretamente na pessoa para que ela produza sua própria defesa. Bom, esse prédio aqui estava cheio de garrafão de soro contaminado quando eu cheguei. Houve uma comoção geral. Não existia mais soro no Brasil.

Como a Fundação assumiu o Instituto?

O Instituto produz vacina e soro, a fundação entrega o material para o ministério, que compra o produto. O dinheiro volta para a fundação e é somado ao que dão Fapesp, CNPq e outros auxílios aprovados. É a fundação que levanta os pontos do Instituto que precisam de investimento. Normalmente o grosso vai para investimentos em pesquisa, em desenvolvimento, uma parte vai para o telhado. É literal: cai muito telhado aqui, esses prédios têm 100 anos...

Quais são as vacinas que o governo brasileiro está bancando?

Ele fornece uma leva para crianças de 0 a 2 anos de idade e vacina os maiores de 60 contra a influenza. Aliás, fizemos uma coisa impensável para uma empresa privada: há quatro anos, descobrimos que os idosos estavam morrendo de difteria. A vacina que eles tomaram quando bebês não durava 50 anos. Então vacinamos gente do Brasil inteiro contra a doença. No primeiro ano, precisamos de US$ 20 milhões de vacina. No ano seguinte, de U$ 2 milhões. Qual firma privada abre uma fábrica para fazer 20 milhões sabendo que, no ano seguinte, vai perfazer 2? O Butantan fez vacina para todo mundo.

O Butantan fabrica todas as vacinas distribuídas pelo governo?

Fabricamos todas, com exceção de uma - a da influenza. Mas agora, com a fábrica que será inaugurada em abril, podemos começar a produzir a nossa própria cepa. Não de imediato, somente no ano que vem. A vacina tem de ser dada em abril de cada ano. O atraso da fábrica nos fez perder esse prazo. De qualquer forma, só conseguimos acelerar o processo porque temos tecnologia transferida pela francesa Aventis, uma empresa importante para o Brasil. Quando o governo escondeu a epidemia da meningite durante a ditadura, procuraram quem tinha a vacina de meningite. Ninguém tinha. Demoraria uns três anos para ficar pronta. Morreriam metade do Rio de Janeiro e metade de São Paulo. O sujeito que criou a Aventis - o nome dele era Mérieux, o pai dele trabalhou com o Pasteur - disse “eu faço a vacina de meningite”, sem toda a burocracia de hoje. Fez a vacina, acabou a pandemia. Quando eu entrei no Butantan, ele disse que transferiria a tecnologia da influenza para nós. É o único caso em que temos a tecnologia transferida. Em geral produzimos do zero ou buscamos a cepa desenvolvida por alguém, como o Instituto de Saúde Pública dos Estados Unidos. A partir dali providenciamos a tecnologia de produção em larga escala.

O senhor diz que a vacina contra a gripe aviária mostrou que os países que não produzem não vão adquirir tecnologia e ficarão sem proteção.

Há países que não vão produzir mesmo. E não é só problema de dinheiro, a Venezuela não produz nada, o México parou, a Argentina também. Antes de produzir, é importante saber controlar a vacina. Certa vez importamos vacina para a coqueluche e, quando a testamos aqui, vimos que não funcionava. O que mudou a situação brasileira foi a montagem de um laboratório na Fiocruz que checa a eficácia das vacinas. País que não tem esse serviço está roubado, não sabe o que está comprando.

Como ficarão os países que não produzem vacina diante de uma pandemia como a da gripe aviária? Só se salvarão aqueles que tiverem tecnologia para produzir?

Alguém terá de produzir para os países em desenvolvimento, e serão a Europa, os EUA e o Canadá, que alojam as fábricas de vacina. Mas a posição política desses países é a seguinte: “Primeiro os meus, depois o o resto”. É antiético? Não é. Primeiro eles vão cuidar dos seus habitantes, depois dos seus soldados e funcionários no estrangeiro. Se sobrar, venderão para o Terceiro Mundo. Mas existem dois problemas nisso. Numa reunião da Organização Mundial da Saúde, em Genebra, no ano passado, ao ouvir que guardariam a vacina apenas para eles, eu berrei: “Nós vamos matar os seus cidadãos nas ruas dos nossos países”. Em segundo lugar, é uma visão torta do mundo. Se o Hemisfério Sul morrer, o Hemisfério Norte não sobrevive. O mundo é integrado, um lado depende do outro. O Primeiro Mundo pode estar protegido da doença, não de suas conseqüências. Se nos matarem, eles não terão fregueses nem fornecedores, e também acabarão doentes.

Que solução o senhor vê para isso?

Não é preciso vacinar o país inteiro. Em epidemias como a da gripe aviária, tem que ser pontual. Se tem um caso num avião, todo mundo que estava nele tem que ser vacinado, o médico que atendeu, enfermeiros, o chofer da ambulância. Basta um estoque para 5% a 10% da população. Já sugeri na OMS fazer um estoque em dez lugares do mundo. Aí, quando surgir um caso, a vacina chega em oito horas de avião. Do ponto de vista do país rico, isso interessa porque fica mais barato e seguro acabar com a pandemia na sua origem. Mas essa idéia de um estoque estratégico não foi aceita porque as companhias preferem continuar a vender a vacina a US$ 100 para quem puder pagar, e pronto. A posição da empresa é puramente capitalista, eu fabrico, eu vendo.

Esse estoque estratégico seria uma ação solidária internacional?

Seria a primeira ação coletiva da espécie humana. Mas não teve repercussão, havia interesses econômicos e políticos maiores. Em escala menor, o Brasil deve fazer isso com a América Latina. O Chávez faz barulho distribuindo dinheiro e fazendo discurso, nós podemos contribuir fazendo a coisa certa. Além disso, somos o único produtor de vacina da América Latina, podemos entrar no mercado de competição para outras vacinas. Mas ainda há o problema do preço, mesmo as vacinas compradas pelo fundo do Unicef e da Opas estão saindo muito caras. Não adianta você fazer uma vacina contra o HPV que custa US$ 1.500. Quando desenvolvo uma tecnologia para vacina, tenho que lembrar que ela precisa estar ao alcance das pessoas, pouco importa o lucro que você almeja. Há vários estudos mostrando que a indústria farmacêutica é a mais rentável do mundo.

O Butantan conseguiu reduzir os custos de várias vacinas...

Um exemplo foi a vacina múltipla DTP, difteria, tétano e pertussis (coqueluche), desenvolvida ainda em 1930. Os EUA conseguiram reduzir sua toxicidade, mas cobram por ela US$ 8,5. Quando desenvolvemos a vacina da coqueluche, pegamos uma bactéria pouco tóxica, conseguimos retirar sua toxicidade e vendê-la a US$ 0,15. E ainda convertemos o produto retirado dessa bactéria tóxica num adjuvante que, juntado a outra vacina, faz com que ela funcione melhor. Isso vai abrir um grande mercado e trazer grandes economias. Além de reduzir o preço, minha fábrica, que foi preparada para produzir 20 milhões de vacinas, agora pode chegar a 80 milhões. Também estamos desenvolvendo uma vacina contra a meningite que vai custar US$ 1 por pessoa, contra os US$ 50 atuais.

Para quem vai essa economia?

Uma das coisas que estamos propondo é a seguinte: com a economia feita na aplicação de vacina da gripe para as pessoas além de 60 anos, por exemplo, podemos vacinar todas as crianças que estão no grupo escolar escolar. Com isso, protegemos a família inteira.

Essa preocupação com o social, com a política de preços menores não provoca uma concorrência agressiva por parte de outros fabricantes?

Já tentaram impedir nosso trabalho, como já fizeram com fábricas de seringas. A seringa custa mais caro que algumas vacinas. Toda fábrica de agulha que tenta abrir aqui é comprada por um monopólio multinacional. Já tentaram fazer isso com a gente. Mas o Butantan não é comprável. Enquanto eu estiver sentado aqui, ninguém compra. É fato, porém, que já tentaram impedir que a gente levasse adiante um produto desenvolvido por nós - não só um, vários. E vão continuar tentando. Há 15 anos tento fazer uma fábrica de hemoderivados, mas a máfia dos vampiros vem impedindo. Então jogamos parte do sangue no lixo e compramos hemoderivados lá fora. Só agora consegui um acordo do Butantan com a Hemobrás.Vamos finalmente fazer a fábrica, só aguardo o dinheiro prometido pelo governo.

Durante gerações, a imagem do Butantan sempre esteve ligada a um serpentário que produzia soro de cobra. Qual a imagem do Instituto hoje?

Eu fiz o museu de vacina e micróbio justamente para dar ao público a imagem de um Butantan que não faz só soro de cobra, algo de pouca importância num país onde 80% das pessoas vivem nas cidades. Não há cobra na Avenida Paulista. O Butantan é hoje um dos maiores produtores de vacina do mundo. Só perdemos para as grandes multinacionais e para uma companhia hindu, que vai passar a comprar nosso soro anti-rábico porque na Índia ninguém cuida dos cachorros na rua. Milhares de pessoas são mordidas e pegam a raiva.

Como o senhor acha que o cientista deve trabalhar?

A ciência evolui quando você dá liberdade para o pesquisador inovar. Mas, quando ele só faz o que quer, não resolve os problemas. Aqui trabalhamos assim: são 25 doutores que entraram na condição de atender a necessidades sociais. Eles podem ter dois projetos, o da instituição, que é a prioridade, e aquele com que sonham. Para esse último, têm que levantar dinheiro. Fazemos o que a universidade faz, só que a universidade pára na bancada. Nós vamos até a produção no laboratório, até conseguir o produto a um preço que o País possa pagar. Esse é a filosofia que implantei quando vim para cá.

Como o senhor vê o debate em torno dos transgênicos?

A biotecnologia agrícola é uma indústria na qual você não precisa importar matéria-prima. Temos as plantas, mas não o aproveitamento esperado na área agrícola porque todo mundo tem medo do transgênico, o que é um besteirol. A vacina da hepatite B é um transgênico, a insulina, tomada por 6% da população do mundo, é transgênica. A comunidade científica não está dividida sobre esse assunto, quem está dividida é a comunidade leiga. A primeira patente de transgênico ocorreu 50 anos atrás, justamente a insulina, e não matou ninguém.





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