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Helena Kolody deixa saudades

(16/02/04)


O adeus à senhora das palavras
Morre Helena Kolody, poeta maior do Paraná • Escritora, que tinha 91 anos, foi enterrada ontem à tarde

O Paraná perdeu, na noite de sábado, a poeta Helena Kolody, que completaria 92 anos no dia 12 de outubro próximo. O corpo da escritora, um ícone da cultura do estado, foi velado e enterrado às 17h30 da tarde de ontem, no Cemitério Municipal de Curitiba.
Considerada uma das vozes mais importantes da História da Literatura do Paraná, a poeta morreu no Hospital de Caridade de Curitiba (antiga Santa Casa de Misericórdia), em conseqüência de uma arritmia cardíaca.
Muitas pessoas estiveram presentes ao enterro, desde familiares e amigos até ex-alunas da época em que Helena Kolody lecionava na então Escola Normal de Curitiba, hoje Instituto de Educação. Também não faltaram integrantes da Academia Paranaense de Letras, da qual, desde 1991, ocupava a cadeira de número 28.
Dedicada à arte de escrever de forma sucinta e singela sobre sentimentos ao mesmo tempo preciosos e corriqueiros da vida, Helena deixa como legado vários livros de poemas. "Sua obra é perfeita. Ela não tem princípio nem fim. É um círculo de perfeição", afirma, muito emocionada, a irmã Olga, de 88 anos, que há mais de 50 anos dividia um apartamento com a escritora na Praça Rui Barbosa, centro de Curitiba.
"Na verdade, o Paraná não perde uma poeta, porque ela nunca morre. Perdemos uma grande mulher", sintetiza a ex-secretária de Estado da Cultura. Mônica Rischbieter. "Vamos sentir muita falta de sua sensibilidade e de sua poesia profundamente espiritual", desabafa Túlio Vargas, presidente da Academia Paranaense de Letras.
Hábil com as palavras, Helena tinha uma desenvoltura natural para os haicais e tankas – pequenos poemas cuja forma tem origem no Japão –, de versos simples, mas de profundo significado. "Sempre fui um admirador e um leitor assíduo de seus trabalhos", revela o prefeito de Curitiba, Cassio Taniguchi.
Fã das centenas de haicais publicados pela poeta, Taniguchi conhece alguns de cor. "São momentos de inflexão, de paz e de solidariedade", resume o prefeito. "Helena nos deixou um legado fantástico. Ela abriu um caminho importante dentro dessa área dos haicais", completa.
Assim como Paulo Leminski, escritor e amigo que primeiro percebeu o dom da poeta descendente de ucranianos para os versos curtos japoneses, a escritora deve ganhar uma homenagem, ainda não definida, da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Quem afirma é Cassio Chamecki, presidente da FCC.
A atual secretária da Cultura do Paraná, Vera Mussi, lamenta a perda da poeta e revela que alguns títulos de sua obra serão traduzidos para o francês. "Ao longo do ano, vamos manifestar a importância dos textos de Helena. 2005 é o ano do Brasil na França. Entre as propostas na área de literatura estão a tradução de seus livros", adianta.
Além de sua obra, a escritora paranaense, nascida na pequena cidade de Cruz Machado, no sul do estado, deixa como lembrança sua personalidade doce e de bem com a vida, sempre disposta a ajudar quem mais necessitava. "Na verdade, a perda de Helena significa muito mais. Estaremos privados de seu sorriso meigo e de seu olhar terno", comenta a escritora e amiga Adélia Maria Woellner.
"Ela é uma voz na vida de todas as pessoas. Perdi, além dessa estrela, uma amiga muito grande", conta Chloris Casagrande Justen, ex-aluna de Helena e presidente do Centro Paranaense Feminino de Cultura.

Documentário
Última pessoa a registrar a escritora, a videomaker e fotógrafa Josina Melo está finalizando um documentário sobre os primeiros anos e o início da carreira de Helena, com um misto de ficção – nas cenas de reconstituição de época – e depoimentos da própria poeta e da irmã Olga. "Concluí todas as filmagens com ela no final de janeiro", conta. "Houve um grande esforço por parte da Helena, que já estava bastante debilitada", completa Josina.
Produzido por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, o documentário Helena de Curitiba, de aproximadamente 30 minutos de duração, tem previsão de estréia para o primeiro semestre do ano. "Se não conseguir, lanço no dia 12 de outubro, como uma homenagem". (Ana Karina Sato)



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