Folha Explica: O DNA.
(02/05/03)
Crítica: Livro traz o DNA explicado, bem explicado
MOACYR SCLIAR
Colunista da Folha
Marcelo Leite começa seu livro sobre o DNA dizendo que a sigla é uma "consagrada abreviação". É mesmo consagrada? Não tenham dúvidas. Basta compará-la a uma outra sigla também frequente na mídia, FMI. Se vocês entrarem no site de buscas Google, encontrarão 2 milhões de referências para FMI e 7 milhões de referências para DNA.
As pessoas estão mais interessadas em código genético do que em juros e mercado. Por boas razões: recentemente foi completado com sucesso o Projeto Genoma Humano, que conseguiu sequenciar os 3 bilhões de letras do DNA, o codificado "manual de instruções" do nosso corpo. As implicações, sobretudo para a medicina, são enormes, aumentando as possibilidades de tratamento e de prevenção de doenças.
Mas, de outra parte, surgem temores: pessoas identificadas como portadoras de risco para certas doenças terão desvantagem no mercado de trabalho, designers genéticos de bebês podem estar se aprontando para oferecer seus serviços. Ou seja: daqui por diante, vamos falar muito em DNA.
Portanto é bom ter um adequado conhecimento do que significa, afinal, essa sigla, e para isso Marcelo Leite, conhecido jornalista científico da Folha, nos dá uma inestimável ajuda.
Em linguagem simples (mas não simplória) e com ajuda de boas ilustrações, ele nos diz, primeiro, o que vem a ser esse DNA, a elegante molécula de dupla hélice. Descreve sua estrutura química, explica o que vêm a ser transcrição e tradução, os dois passos da leitura do DNA pela célula.
A seguir, entramos na história, começando com Gregor Mendel, aquele monge que, no século 19, lançou as bases da genética com seus estudos sobre cruzamento de ervilhas, e chegando à dupla famosa James Watson e Francis Crick, que, há exatos 50 anos, estabeleceu a estrutura da molécula -uma aventura científica à qual não faltaram elementos de intriga e traição.
Na última parte, Marcelo Leite faz oportunas considerações sobre o futuro do genoma e da biotecnologia em geral. Mostra como o intenso noticiário (gerado, em parte, por grandes interesses) criou, no público, enormes expectativas que não correspondem inteiramente à realidade. Genes são importantes, mas não são tudo; o ser humano é produto de sua herança genética, mas também do ambiente.
Biologia não é destino, e não se pode, portanto, falar em determinismo genético como algo absoluto. No passado, idéias desse tipo levaram a perigosas manifestações racistas. É melhor, diz Marcelo Leite, pensar na complexidade e na indeterminação como inevitáveis acompanhantes daquela liberdade que todos desejamos como ideal de vida.
Folha Explica: O DNA.
De: Marcelo Leite. Editora: Publifolha.
Quanto: R$ 11,50 (104 páginas).
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