CASLA - NOTÍCIAS


Filme faz justa homenagem a Ademir da Guia, o Divino

(08/02/06)


São Paulo - Ele passeava pelo campo com a elegância de um Ismael Silva, de um Ataulfo Alves. Jogava como que vestido a rigor. Dominava a bola como poucos e a escondia dos marcadores. Impunha seu ritmo, que os fariseus diziam lento. E, quando o adversário acreditava nesse mito da lentidão, já era tarde – a bola estava no fundo das redes ou no pé de um companheiro bem colocado para marcar. Jogou 901 partidas pelo Palmeiras, ganhou estátua no Palestra Itália e João Cabral dedicou-lhe um poema. Faltava só um filme em sua homenagem. Não falta mais. O cineasta Penna Filho acaba de tirar a primeira cópia de “Um Craque Chamado Divino – Vida e Obra de Ademir da Guia”.

A pré-estréia do documentário, no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, foi transformada em paraíso para palestrinos nostálgicos dos bons tempos da Academia. Além de Ademir, estavam seu eterno companheiro de meio-campo, Dudu, o mitológico goleiro Oberdan Catani, o centroavante César - César Maluco, como era chamado. Todos para reverenciar o Divino, que se emocionou com o filme, mas, fiel ao seu estilo, conteve-se.

Oberdan, depois da sessão, disse que filmes como esse são muito bons. “Mas há tão poucos deles...”, lamentou. O velho goleiro, integrante do dream team palmeirense de todos os tempos, disse que Ademir ainda é privilegiado pois tem registradas suas imagens jogando. Dele, Oberdan, não restou nada. Só imagens de entrevistas. Só a memória. Oberdan põe a culpa nos incêndios das emissoras, que devastaram arquivos preciosos: “Pegou fogo em tudo...”.

O volante Dudu também gostou e disse que filmes como o de Ademir são importantes “para a molecada de hoje ver como se jogava naquele nosso tempo”.

E como se jogava... Como disse o narrador Fiori Giglioti, “naquele tempo o palmeirense ia ao estádio com a certeza de que seu time ia jogar bem; podia até não ganhar, mas havia categoria em campo.”

Mas as imagens são a prova dos noves. E, aí, o diretor Penna Filho dá razão aos ex-jogadores – é difícil encontrar bons registros dos jogadores veteranos. “Eu gostaria de ter feito um filme com menos depoimentos e mais jogadas do Ademir, mas usamos o que foi possível”.

E o que foi possível já é muito bom. Vemos cenas de alguns gols antológicos do Divino, das suas passadas em campo, o domínio de bola inigualável. E, sim, a preparação de jogadas para os companheiros, aquelas bolas com mel e açúcar, redondinhas, prontas para o gol. Num dos lances que levantaram a galera durante a exibição do filme, Ademir domina na entrada da área, tira um zagueiro da jogada, equilibra a bola no peito do pé, e levanta, à meia altura, como se fosse com a mão, para um companheiro encher o pé e marcar.

O repertório de Ademir como artilheiro também é variado – há gols de pé direito e de pé esquerdo. De cabeça e de falta, cobrada com três dedos. Escorando cruzamentos na área, matando a bola no peito, escondendo-a do adversário e arrematando. Fez 153 gols, em 16 anos, pelo Palmeiras.

Aliás, com exceção do início no Bangu, o Palmeiras foi seu único time. Por essa constância, também, além da categoria de mestre, é o ídolo maior do Palestra Itália.

Luiz Zanin



há mais de 20 anos na Luta pela Integração Latino-Americana