CASLA - NOTÍCIAS


Ferreira Gullar e a poesia

(04/01/03)


A poesia é necessária

Ferreira Gullar, pseudônimo do poeta e crítico de arte brasileiro José Ribamar Ferreira, nasceu em São Luís do Maranhão, em 1930. Aos 19 anos foi premiado em um concurso de poesias promovido pelo Jornal de Letras. Trabalhou como locutor de rádio, editor de revistas literárias até os 21 anos, quando se mudou para o Rio de Janeiro.
A partir de A luta corporal (l954) passa a fazer parte do movimento concretista. No Rio de Janeiro, colabora em jornais e revistas como poeta e, principalmente, como crítico de arte, sendo por estes os seus primeiros contatos intelectuais. Em 1959, rompe com os concretistas e teoriza e lidera o movimento neoconcretista. A partir da década de 60, considerando o neoconcretismo esgotado, o autor iniciou sua produção de poesia engajada, voltada para as causas sociais, em tom panfletário e, algumas vezes, agressivo, em versos livres. Sua produção em cordel, ao contrário, obedece aos padrões formais tradicionais. Dedica-se à cultura popular.

A partir de 1962, seus textos já refletem a preocupação em denunciar e combater a opressão e as injustiças sociais.

No teatro, Ferreira Gullar escreve, em parceria com escritores amigos, peças que também abordam a situação social do povo brasileiro. Seu último livro de poemas é Barulhos, de 1987.

Hoje, Ferreira Gullar divide seu tempo entre poemas, análises e reflexões sobre artes plásticas e como consultor e redator da Rede Globo de Televisão, realizando textos e adaptações para minisséries e especiais.





Não há vagas


O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão


O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.

Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras



- porque o poema, senhores, está fechado:
'não há vagas'


Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço



O poema, senhores,
não fede
nem cheira


[04/JAN/2003]



há mais de 20 anos na Luta pela Integração Latino-Americana