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Diretores de cinema (Babenco e Meirelles) discordam sobre Hollywood

(02/05/03)


Meirelles diz que, depois da Guerra do Iraque, não quer trabalhar nos EUA; Babenco pede fim das generalizações

DA REPORTAGEM LOCAL

A seguir, os cineastas Fernando Meirelles e Hector Babenco falam sobre o Festival de Cannes, Hollywood e a importância dos atores no cinema nacional. (SILVANA ARANTES)

HOLLYWOOD


Meirelles - Até agora, estou resistindo a todas as propostas [de Hollywood]. Ontem [terça], veio mais uma, de um filme com Brad Pitt, remake de um longa japonês.
Não vou nem conversar, porque estou muito motivado a fazer meu próximo filme, "Intolerância". Depois da Guerra do Iraque, não estou animado a trabalhar com os norte-americanos. É um preconceito estúpido, vai passar, mas, neste momento, não tenho nenhuma vontade de ir para os Estados Unidos.
Depois de acabar "Intolerância", pelo menos um filme desses [hollywoodianos" eu vou fazer. [Para Babenco" Sua experiência foi boa? Você faria de novo?


Babenco - Foi excelente. Hollywood é uma palavra muito abstrata. Não devemos generalizar. Há gente inteligente em Hollywood, e não há o que me prove o contrário. Tenho o privilégio de ter feito lá projetos que eu inventei ["Ironweed" (1987) e "Brincando nos Campos do Senhor" (1991)". Não foram roteiros que alguém me mandou.


Meirelles - Eu gosto do ofício. Fiz publicidade, onde você tem que fazer isso, como um artesão. Eu me sinto confortável de pegar o roteiro de outro e dirigir. Não é o artista, é o artesão.


Babenco - Não cheguei nunca a esse grau de autoconfiança, porque filmei muito pouco. Você deve ter mais horas de set do que eu.


Meirelles - Tenho certeza.


FESTIVAL DE CANNES


Babenco - [Para Meirelles" Por que não te aceitaram na competição [do Festival de Cannes 2002, em que "Cidade de Deus" foi exibido fora da disputa pela Palma"?


Meirelles - Porque o diretor do festival [Gilles Jacob" não gostou do filme. O diretor-artístico [Thierry Frémaux" disse que seria um erro o filme ficar fora do festival. Eles fizeram um acordo. Estive no festival, fora de competição.


Babenco - É porque você não era conhecido. Eles recusaram "Pixote" [1981" também. Não passou nem fora de competição. Quatro anos depois, Gilles Jacob estava no júri do Festival de Biarritz comigo e se desculpou.


ATORES


Meirelles - Os paradigmas do que o público quer ver no Brasil estão mudando. A história de que um filme de sucesso precisa de caras conhecidas caiu por terra.
Mesmo em "Deus É Brasileiro" [de Cacá Diegues, estrelado por Antonio Fagundes" todo mundo diz que o [ator" Wagner [Moura" rouba o filme. Será que os atores não cumprem mais? Essas caras que eu já vi 500 vezes me cansam.


Babenco - O star system americano é baseado na regra da menor exposição. Quanto menos apareço, mais forte é minha imagem.


Meirelles - Alguns produtores brasileiros ainda acham que o ator leva público ao cinema.


Babenco - É uma ingenuidade.


Meirelles - Está provado que é um erro.



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