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Apenas 10% dos grandes peixes sobrevivem nos oceanos

(15/05/03)


CRISTINA AMORIM
da Folha Online

Desde o início da pesca industrial, na década de 50, 90% da população de grandes peixes, como o merlin, o peixe-espada, o tubarão e o bacalhau, sumiram dos oceanos.

O dado, que faz parte de um levantamento publicado na edição de amanhã da revista "Nature" (www.nature.com), mostra que a demanda levou apenas dez a 15 anos para pulverizar as comunidades desses animais.

"Do merlin-azul ao atum rabilho, das garoupas tropicais ao bacalhau da Antártida, a pesca industrial limpou o oceano global", disse o biólogo Ransom Myers, da Universidade Dalhousie (Canadá), principal autor do estudo. "Desde 1950, com o início da pesca industrializada, nós tivemos uma redução rápida da base do recurso para menos de 10% --não apenas em algumas áreas, não apenas por algumas gerações, mas em comunidades inteiras formadas por essas espécies, dos trópicos aos pólos."

Segundo Boris Worm, que realizou o levantamento com Myers, o impacto da ação humana nos oceanos foi subestimado. "Essa é a megafauna, os grandes predadores do mar, e as espécies mais valiosas para nós. Sua redução não apenas ameaça o futuro desses peixes e dos pescadores que dependem deles. Ela também pede uma completa reorganização dos ecossistemas marítimos, com consequências globais desconhecidas", explicou Worm.

A pesquisa durou dez anos entre reunião de material, construção de trajetórias de biomassa e composição de comunidades de peixes. Antes da publicação na "Nature", Myers e Worm apresentaram suas descobertas aos principais cientistas da área. "Havia aceitação da diminuição geral das comunidades, mas houve controvérsia a respeito de espécies individuais, particularmente sobre o atum", disse Myers.

De acordo com Jeremy Jackson, do Instituto Scripps de Oceanografia, a dúvida apareceu "porque esquecemos do que tínhamos". "Havia oceanos repletos de peixes heróicos, literalmente monstros do mar."

Medidas extremas

Durante a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio +10, os países participantes pediram à comunidade internacional o restabelecimento dos níveis populacionais de peixes de forma sustentável até 2015.

"Espero que a ONU [Organização das Nações Unidas] use o estudo em seu esforço declarado de restaurar os estoques globais de peixes e os ecossistemas a níveis saudáveis", disse Worm à Folha Online por e-mail.

Para os autores do estudo, alcançar esse objetivo requer medidas extremas. A diminuição da mortalidade pediria redução de cotas pesqueiras, corte de subsídios, investimento em tecnologia e criação de redes de reservas marinhas.

Para Worm, não há outra forma de lidar com esse problema. "Não há plano de contingência", afirmou. "No final de contas, isso vai beneficiar todos, porque as populações saudáveis de peixes geram mais vantagens e lucro que as fracas."

"Temos de entender o quão perto da extinção essas espécies estão realmente", disse Myers. "E devemos agir agora, antes de alcançarmos um ponto sem volta. Se os níveis atuais de pesca persistirem, esses grandes peixes terão o destino dos dinossauros."



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