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A Cultura do Novo Capitalismo - Richard Sennett

(17/04/06)


Richard Sennett, professor da London School of Economics, traça panorama pouco otimista de empresas

Capital flexibiliza trabalho e gera ansiedade
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nascido num bairro pobre e violento de Chicago, Richard Sennett escapou do destino pouco promissor que aquele ambiente lhe reservava. Uma família de militantes de esquerda e o dom musical o salvaram. Criança ainda, tocava violoncelo em concertos e compunha. A carreira, no entanto, seria interrompida antes dos 20 anos devido a uma lesão muscular. Foi então que começou a nascer o sociólogo e autor de livros elogiados, como "O Declínio do Homem Público".
A flexibilidade exigida do trabalhador atual, assunto recorrente na obra de Sennett, pode ser observada na própria biografia do autor. No caso dele, a guinada deveu-se a uma circunstância pessoal; para a maioria, ela decorre das transformações por que passam as empresas.
Em que pese sua trajetória de sucesso, Sennett, que, aos 63 anos, mora em Londres e leciona na London School of Economics, é crítico em relação aos efeitos dessa flexibilidade sobre a sociedade e os indivíduos.

Reunião de conferências
A empresa moderna pode ter fragmentado a burocracia das corporações do passado, mas ao custo da fragmentação da vida de muitos trabalhadores, argumenta ele em "A Cultura do Novo Capitalismo", baseado num ciclo de conferências sobre ética, economia e política.
A empresa instável dos primórdios do capitalismo, como testemunhada por Karl Marx (1818-1883), consistia terreno fértil para a revolução. O que salvou o regime, estabilizando-o, foi a adoção de um modelo militar de organização, de acordo com o conceito descrito por Max Weber (1864-1920). O empregado desenvolvia relação duradoura com a empresa, mas passava a vida confinado na "jaula de ferro", para usar a expressão de Weber.

Reengenharia
A reengenharia dos anos 90 rompeu essa jaula. A liberdade resultante, porém, não é tão positiva quanto pode parecer à primeira vista. Para Sennett, o medo do fracasso nas empresas militarizadas foi substituído pela ansiedade diante das incertezas numa empresa reestruturada.
"Os mais ansiosos são os homens de classe média e de meia-idade que, apartados da antiga cultura corporativa, têm dificuldade de encontrar seu lugar na nova", destaca o autor.
O impacto do novo capitalismo é generalizado na sociedade, mas os mais pobres sofrem mais. "A massa dispõe de uma rede mais rala de contatos e apoios informais, permanecendo, portanto, mais dependente de instituições", afirma Sennett. E conclui: "A erosão do capitalismo social gerou uma nova formulação de desigualdade".
Em "A Cultura do Novo Capitalismo", o autor retoma o tema abordado em "A Corrosão do Caráter", em que descreve como a nova empresa, mais ágil e enxuta, fez vergar uma geração de trabalhadores.
Sennett, um intelectual que se formou na esquerda, não apresenta soluções, mas, ao apontar o problema, tem o mérito de levar o leitor até a metade do caminho.



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Oscar Pilagallo é jornalista, editor das revistas "EntreLivros" e "História Viva" e autor de "A História do Brasil no Século 20" (Publifolha)
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A Cultura do Novo Capitalismo
Autor: Richard Sennett Editora: Record Quanto: R$ 32,90 (189 págs.)



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