CASLA - FILMES


O CRIME DO PADRE AMARO

(Histórico)

(2003)


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Indicado mexicano ao Oscar e êxito de bilheteria em seu país, "O Crime do Padre Amaro", adaptado de livro de Eça de Queiroz, chega às telas do Brasil
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DENISE MOTA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Um gato que recebe a eucaristia e uma professora de catecismo que se "veste" de Nossa Senhora minutos antes de transar com -veja bem- um sacerdote de sua paróquia ocuparão os cinemas brasileiros a partir do dia 17, quando estréia "O Crime do Padre Amaro".
O filme do cineasta Carlos Carrera atraiu a atenção de pelo menos 5 milhões de espectadores no México, reservando ao longa um lugar na história daquele país, como a produção nacional de maior bilheteria em todos os tempos.
A igreja foi não só tema, mas também divulgadora -ainda que involuntária- do filme, alvo de campanhas de boicote de autoridades religiosas e de missas em desagravo aos seus espectadores em diversas cidades mexicanas.
Tanto exorcismo só fez bem: "O Crime do Padre Amaro", exceção das exceções, teve seus custos (US$ 1,6 milhão) pagos na bilheteria do país e é o indicado do México ao Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano. Vaga à qual concorre também, por exemplo, o brasileiro "Cidade de Deus".
Baseado na novela homônima de Eça de Queiroz (leia texto nesta página), o filme é transportado para os dias atuais, numa comunidade onde generosos dízimos vêm do narcotráfico. Nesse entorno, o principal sacerdote local mantém um romance, enquanto outro auxilia a guerrilha nos campos. Nesse fogo cruzado, Amaro -talento ascendente no círculo religioso- busca se encaixar.
Mas nem só de maracutaias é feito o vilarejo. Por lá também passeiam moças bem-intencionadas, e Amaro cairá nas graças de uma delas.
A seguir, Carlos Carrera fala de "O Crime do Padre Amaro".


Folha - O sr. defende seu filme das críticas que recebeu, sobretudo da igreja, dizendo que essa é apenas uma história de amor. Com a igreja às voltas com casos de pedofilia, por exemplo, não lhe parece difícil dissociar a temática de "O Crime..." dos problemas pelos quais a igreja vem passando?
Carlos Carrera - Sim, totalmente. E acho que os piores propagandistas da igreja são os sacerdotes que se comportam de modo bastante questionável. Há uma história de amor, que é como a coluna vertebral do filme, mas o que mais me interessou foi ver como funciona a igreja em relação ao poder, como instituição política.
Tínhamos medo de reações contrárias ao filme, mas não imaginávamos que seriam tão grandes. Mas em nossos países, com tantos católicos, me parece muito importante falar desses problemas, que se vêem na realidade. São coisas que todo mundo sabe.


Folha - A polêmica, no entanto, ajudou a divulgar seu filme...
Carrera - Certamente. Mas não foi intencional, foi uma coincidência muito boa. É importante que se conheça o comportamento de alguns sacerdotes. Não estou generalizando, dizendo que todos são assim, mas há condutas na igreja que devem ser criticadas.
Imagino que, na primeira semana, as pessoas foram ver o filme movidas pela curiosidade. Mas ele continua a ser visto e recomendado pela obra que é.


Folha - O que mais lhe atraiu numa história escrita em 1875?
Carrera - Sua atualidade. Poucas coisas mudaram na igreja, sobretudo em torno do celibato. E os personagens são fascinantes. O filme não contempla toda a riqueza exposta no livro e é menos anticlerical que a novela. Porque no livro os personagens são de uma maldade tremenda. Cuidamos de matizá-los um pouco. Fizemos mudancinhas, e acho que os portugueses não gostaram (risos). O filme não é fiel à novela original. Assim é e tinha que ser.


Folha - Gael García Bernal ("Amores Brutos") é o ator que mais se destaca no cinema latino atual. Ana Claudia Talancón é bastante conhecida no México e atua em "Vale Todo", versão hispânica de novela da Globo. O sr. planejou ter um casal de apelo popular como um modo de atrair espectadores?
Carrera - Ana Claudia ainda não havia entrado para essa novela. Houve um amplo processo de seleção. Quanto a Gael, mostramos a história a ele há três anos, quando não era ainda tão famoso. Gael é capaz de dar as duas caras de Amaro, tem um rosto angelical e maldade ao mesmo tempo. E é um ator muito bom, um entusiasta nos projetos em que participa.



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O CRIME DO PADRE AMARO. De: Carlos Carrera. Produção: México/Espanha/ Argentina/França, 2002. Com: Gael García Bernal, Ana Claudia Talancón. Quando: estréia no Brasil em 17/1.




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