CASLA - FILMES


Casa de Areia, quarto longa-metragem do diretor Andrucha Waddington

(Drama)

(2005)


Dunas da solidão

Fernanda Montenegro e Fernanda Torres estrelam filme realizado nos Lençóis Maranhanses

A aridez do Nordeste está presente mais uma vez nas telas brasileiras. Mas ao invés da tradicional caatinga, o cenário principal de Casa de Areia, novo filme de Andrucha Waddington que estréia hoje em Curitiba, são as dunas da região, uma imagem ainda não muito explorada pela cinematografia nacional.

O quarto longa-metragem do diretor – responsável por Gêmeas, Eu Tu Eles e o documentário Viva São João! – começou a partir de uma sugestão do produtor Luiz Carlos Barreto, que viu uma foto de uma casa coberta por um areial e disse que a imagem poderia render uma história. Andrucha – que nunca viu a foto, mas afirma ter chegado a sonhar com ela – pesquisou informações sobre o local e descobriu que a casa era de uma mulher que passou a vida inteira lutando contra as dunas. “Quando ela morreu, a areia tomou conta de tudo”, revela.


A situação descrita pelo cineasta foi o ponto de partida para a criação do roteiro de Casa de Areia (escrito por Elena Soárez), que passou pela chancela do prestigiado Instituto Sundance. A fundação criada por Robert Redford é mais um dos poderosos nomes envolvidos na produção do projeto, que custou R$ 8,6 milhões. Também participam do projeto Luiz Carlos e Lucy Barreto (um dos clãs mais influentes do cinema brasileiro), Walter Salles (Diários de Motocicleta), Globo Filmes e Columbia Pictures, além da Conspiração Filmes, uma das principais produtoras do país, da qual Waddington é sócio. O elenco da fita também é de peso, sendo capitaneado por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, que têm como coadjuvantes Seu Jorge, Stênio Garcia, Luiz Melodia, Enrique Diaz, Emiliano Queiroz e Ruy Guerra.

Segundo Andrucha, Casa de Areia foi feito especialmente para as Fernandas. Elas interpretam três gerações de mulheres de uma mesma família, que passam mais de 60 anos tentando abandonar o areial em que vivem – as atrizes dividem os papéis, mães e filhas, com Torres vivendo as personagens mais novas e Montenegro assumindo quando chegam à maturidade. “Fomos nos observando para definir as personagens, mas não buscamos fazer com que as mais velhas fossem imitação das mais novas. Temos um entrosamento, algo que vem da genética, da vivência de tudo, do nosso humor, do nosso modo de ver a vida”, conta Montenegro.

Para a veterana atriz, a história contada no filme possibilita várias leituras. “Há a questão do eterno retorno, da vida e da morte, o mistério do feminino, esse fenômeno da natureza que é gerar uma criança, nossa proximidade com o animal. Fala também sobre o tempo, o universo, as grandes incompreensões do mundo”, filosofa, lembrando que a experiência da filmagem foi muito aventureira. “O estar naquela região árida me ajudou a entender a solidão, as dificuldades de sobrevivência, como as pessoas se acomodam, habituam-se às coisas. Gostei muito de ter vivido ali, foi um momento familiar intenso”, continua.

Para produzir a fita, foi montada uma verdadeira operação de guerra na região dos Lençóis Maranhenses, onde a equipe de Waddington passou seis meses trabalhando (três de pré-produção e três de filmagens). Criou-se toda uma infra-estrutura no local para receber os técnicos e atores, que envolveu desde a construção de uma pousada até a abertura de uma franquia de uma pizzaria (pois as filmagens, que chegavam a durar mais de 14 horas, acabavam de madrugada e era necessário um local aberto nesse horário para a equipe se alimentar), passando por melhorias na região, como a construção de uma sede do Ibama. “Eu dormia apenas três horas por dia”, afirma Waddington, que teve hepatite durante a produção.

O cineasta já trabalha em um novo projeto chamado Os Penetras, que será filmado no final deste ano para ser lançado no início de 2007 – o elenco conta com Rodrigo Santoro e Selton Mello. Já Fernanda Montenegro deverá fazer uma participação na próxima novela de Silvio de Abreu. “No cinema, fico em repouso enquanto não aparecer alguma proposta interessante”, confirma a atriz.

Rudney Flores




há mais de 20 anos na Luta pela Integração Latino-Americana